sexta-feira, 12 de junho de 2015

A contribuição da Psicologia para solucionar /administrar conflitos em hospitais numa provável crise da água.

No dia 29/04/2015 tivemos um ciclo de palestras sobre a Crise nos Recursos Hidricos na UNIPAULISTANA. Foi um evento fechado apenas para alunos da instituição, especialmente os alunos do curso de Administração e Gestão Hopitalar. Como professora da disciplina Psicologia Social e das Organizações palestrei sobre como Administrar ou solucionar conflitos frente a crise da água. Minha fala foi curta, cerca de 20 minutos, e o conteudo virou um artigo (não academico) que sairá no jornalzinho e site interno da UNIPAULISTANA. Segue foto do evento e o artigo da minha fala.



A contribuição da Psicologia para solucionar /administrar conflitos em hospitais numa provável crise da água.

Por: Profa. Ms. Raquel Alves Cassoli

A preocupação com os recursos ambientais no mundo tem sido cada vez maior, as reuniões mundiais organizadas pela Organização das Nações Unidas buscam acordos internacionais e compromisso entre os países para a preservação dos recursos naturais no planeta. Duas das principais reuniões realizadas foram em Estocolmo em 1972 e no Rio em 1992 e entre as metas assumidas estavam o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Essas preocupações foram potencializadas pelas alterações climáticas e especialmente no estado de São Paulo, que tem vivido verões secos e, com a falta de água, racionamento e rodízio no fornecimento desta. O que observamos é uma pequena sensação de pânico entre as pessoas que passaram a buscar serviços de poços artesianos e caminhões pipa. As organizações, especialmente as que lidam com a saúde como clinicas e hospitais precisam estar preparadas para uma provável falta de água. Como a psicologia pode ajudar neste momento?

Primeiramente gostaria de falar a vocês o que faz a Psicologia nas organizações de uma maneira generalizada.  A Psicologia é uma ciência que estuda o fenômeno psicológico, seja a subjetividade, que são os pensamentos, os sentimentos e as experiências representadas internamente, como também a objetividade expressa através do comportamento humano. A Psicologia é dividida em diferentes áreas de atuação e dentro das organizações de saúde possivelmente contamos com dois profissionais diferentes são eles: o psicólogo da saúde ou hospitalar que cuida da saúde das pessoas como um todo e no caso de um hospital, cuida das demandas especificas deste lugar. E O Psicólogo Organizacional é o profissional da área da psicologia que estuda o comportamento humano das pessoas nas organizações e o comportamento da própria organização. De modo mais detalhado : a forma como se relaciona e como se sentem os profissionais, agindo para auxiliar a organização na definição dos melhores perfis para atuarem dentro da organização, conduzir uma analise para solucionar um problema organizacional,   avaliação de desempenho dos funcionários e equipe, desenvolver a avaliar programas de treinamento que melhor correspondam aos objetivos organizacionais, preparando lideres e subordinados para as transformações que também são necessárias as empresas, assim como implementar sistemas de bonificação e gratificação aos bons funcionários. Afinal a empresas também se movimentam nos mercados e através  dos tempos.

Será que existe estabilidade seja ela no emprego ou nas mudanças sociais e climáticas, políticas ou econômicas? Não, não existe estabilidade. O mundo está em constante movimento e coloca às empresas e às pessoas constantes desafios e transformações para se adaptar as novas realidades, sempre, cada vez numa velocidade maior.

No caso dos recursos ambientais, quase fomos tomados por uma surpresa, apesar de ter sido noticiado em 2010 que o estado de São Paulo poderia viver uma crise nos recursos hídricos, essas manchetes foram praticamente ignoradas pela população, que não trabalhou para o processo de reeducação para melhor aproveitamento e economia da água.

Quem diria que o Brasil viveria uma crise nos recursos hídricos de forma tão precoce?
De acordo com relatório do Senado federal: “O Brasil detém cerca de 12% da água doce superficial disponível no Planeta e 28% da disponibilidade nas Américas. Possui ainda, em parte de seu território, a maior reserva de água doce subterrânea, o Aquífero Guarani, com 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Entretanto, a distribuição geográfica desses recursos – superficiais ou subterrâneos – é bastante irregular. A região Norte, com 8,3% da população, dispõe de 78% da água do País, enquanto o Nordeste, com 27,8% da população, tem 3,3%.
A crise de água não é consequência apenas de fatores climáticos e geográficos, mas principalmente do uso irracional dos recursos hídricos. Entre as causas do problema figuram: o fato de a água não ser tratada como um bem estratégico no País, a falta de integração entre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e as demais políticas públicas, os graves problemas na área de saneamento básico e a forma como a água doce é compreendida, visto que muitos a consideram um recurso infinito. Para preservar os corpos hídricos e garantir o acesso a eles, o Brasil terá de promover uma gestão eficiente, que busque a equalização inter-regional e intertemporal da água.Temos uma crise, não por problemas climáticos, como alguns meios de comunicação insistem em dizer, mas por falta de planejamento, foco e educação para melhor gerir esses recursos. 

Mas vamos então desmembrar a palavra crise, porque toda vez que pensamos em crise, pensamos, apenas em momentos difíceis.  O significado de crise é, de acordo com o dicionário Aurélio: 1. é uma mudança súbita ou agravamento que sobrevém no curso de uma doença aguda. 2 Manifestação súbita de um estado emocional ou nervoso.3 Conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo.4 Falta de alguma coisa considerada importante.5 Embaraço na marcha regular dos negócios. Ou 6 Desacordo ou perturbação que obriga instituição ou organismo a recompor-se ou a demitir-se. A palavra crise vem do latim crisis que significa momento de decisão, mudança súbita.

Vamos ver o que disseram os pensadores e cientistas sobre CRISE.
Crises - não são uma situação temporária, mas um caminho para a vida interior" - Vigotski.
 "Em momentos de crise, só a imaginação é mais importante que o conhecimento." 
(Albert Einstein)
"Quando escrito em chinês a palavra crise compõe-se de dois caracteres: um representa perigo e o outro representa oportunidade." (John F. Kennedy)
Temos algumas lições a extrair destas frases: precisamos avaliar como vivemos e agimos, precisamos ser criativos e precisamos criar oportunidades. Então a crise é uma situação que exige uma decisão, exige mudanças, é o momento em que temos que mudar de rumo. Na medicina se configura como o momento em que o paciente apresenta um quadro que o médico define o tratamento que pode levá-lo á cura ou lhe trazer a morte. Na economia é a fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão. Neste momento já estamos vivendo uma crise e antes de atingirmos um ponto realmente difícil podemos realizar algumas mudanças para garantir o bom consumo da água.
Como diz o poeta Edson Marques, em um poema chamado MUDE que diz “ MUDE, mas comece devagar pois a direção é mais importante que a velocidade”.

Até aqui parece muito tranquilo, mas tem uma coisa com a qual não contamos, os seres humanos criam uma rotina e uma vida cotidiana, onde simplesmente acham muito difícil mudar. Se eu pedisse para vocês mudarem o lugar onde estão sentados agora, levante a mão quem ficaria completamente confortável para mudar de lugar?
Poucos ou ninguém. Mas vou dizer a vocês nada na vida de vocês nada permanece de forma estática, vocês mesmo são outras pessoas, diferentes das que eram na semana passada, diferentes de ontem, então é preciso, se quiserem viver bem nos dias de hoje, observar as mudanças que ocorrem a nossa volta e mudar com elas. Por isso, saibam lidar com a diversidade e garantam em ter na equipe de trabalho pessoas flexíveis que aceitem mudanças com facilidade e saibam trabalhar em grupo. Neste ponto um bom projeto de recrutamento e seleção garante que o perfil adequado estará com você.
Para não termos lidar com mudanças drásticas no caso de falta de água num hospital ou numa instituição de saúde algumas mudanças precisam ser instaladas antecipadamente, ou seja, vamos devagar, mas com foco no que precisa ser modificado.

O Governo do Estado de SP noticiou que em caso de falta d´água, hospitais e escolas tinham prioridades no abastecimento, mas ainda assim, sem a mudança no comportamento esses lugares estariam correndo riscos.  A primeira coisa a se fazer é a gestão ter definido, antes de uma provável falta, quais são as prioridades no atendimento ou no uso da água.  A gestão precisa fazer um planejamento.

O que vai garantir o bom desempenho é: planejamento de prevenção, isto significa, divulgar a informação, desenvolver ações planejadas em treinamento.
 O sucesso no caso de um incêndio, em qualquer instituição, depende do preparo da equipe e do treinamento da brigada de incêndio. Geralmente a brigada faz um treinamento intensivo para evitar o pânico das pessoas no caso de um incêndio. Soam se os alarmes para simular uma situação de incêndio, as equipes evacuam o prédio  e isto garante que todos saibam o que fazer em caso de um incêndio real.

Um exemplo que temos de sucesso nos momentos de crise e no atendimento de emergência é o Japão, que tem população aproximada de 126,9 milhões de pessoas. Em 2011 um terremoto de 9 graus na escala Richter, o quarto pior do mundo, As ondas invadiram a cidade e provocaram mortes e a destruição de casas e ruas. Milhões de residências ficaram sem energia elétrica, cerca de 80 estabelecimentos foram incendiados e houve vazamento de material radioativo de uma usina nuclear. Autoridades japonesas divulgaram que 9.079 pessoas morreram e milhares ficaram feridas. Esses danos só não foram piores porque o país possui construções de boa qualidade e realiza treinamentos (simulações) com a população de como agir durante terremotos. Existe alerta para os celulares e toda a população está preparada para lidar com isso. A informação é o melhor instrumento para conter o pânico e fazer as pessoas agirem com calma.
A cidade de Mendoza, na Argentina depois de um grande terremoto que devastou a cidade 1944, a cidade possui áreas de escape.
O Chile também é um país que tem se mostrado cada vez mais preparado para lidar com terremotos, talvez não estejam ainda aos pés da tecnologia e educação no Japão, mas mostra-se cada vez mais rápido para lidar com essas situações.
Já no Haiti, com população acima de 10 milhões de pessoas, um dos países mais pobres da América e com pouco acesso a informação e tecnologia, em 2010, num terremoto de 7,5 graus na escala Richter 200mil pessoas foram mortas, outras 250 mil ficaram feridas e 1,5 milhões ficaram desabrigados. Mesmo em 2013 a cidade ainda estava em processo de reconstrução.
Desta forma todo gestor deve se antecipar aos acontecimentos e prevenir uma possível falta de água. Para conseguir sucesso nesta operação todas as equipes devem estar envolvidas. A gestão deve estabelecer um planejamento dos setores que teriam prioridades no atendimento e no fornecimento da água. Neste planejamento também deve conter um plano de treinamento, de como as equipes e os setores devem agir tanto para a economia preventiva de água, como também para conter os gastos desnecessários enquanto não chega um caminhão pipa que faça o abastecimento da unidade.

É muito grande a probabilidade de que a falta de água gere pânico na população, como vimos neste ultimo verão, que com a falta de chuvas, as pessoas saíram comprando caixas d´água, estocando galões de água e algumas residências para fugir do racionamento abasteciam seus reservatórios com água dos caminhões pipas, ou perfuraram poços. Sabemos que o hospital ou uma unidade de saúde terá preferência no abastecimento, mas o uso consciente e reuso da água garante que a unidade não será surpreendida. A Psicologia Comportamental explica que quando queremos que um comportamento seja prevalente, que aconteça mais vezes o que fazemos? Premiamos, elogiamos, nas palavras da psicologia chamamos de reforçamento positivo. Fazemos com que este comportamento fique mais forte, afinal todas as pessoas gostam de ser premiadas por suas ações: mudamos o corte do nosso cabelo por um elogio, fazemos boas ações por um premio. Identifique na sua empresa, na sua equipe o que é reforçador, o que as pessoas valorizam e gratifique-as. Pode ser uma folga extra, um curso, um presente, uma festa, um passeio, um bônus ou a possibilidade de financiar um bem. O valor do premio não é o mais importante, o que realmente importa é o que os colaboradores valorizam. Punir o comportamento inadequado não é o melhor caminho. Ele apenas traz a suspensão temporária do comportamento indesejado que depois de um tempo volta a acontecer, por isso as multas de transito não são eficientes, depois do susto da multa as pessoas reincidem no erro.

 Se ainda assim houver pânico entre as pessoas, os profissionais que se demonstrarem pouco capazes de lidar com a situação devem ser afastados e substituídos por pessoas que demonstrem melhor habilidade para lidar com uma situação caótica. Incentivar boas ações e boas ideias, informação, planejamento e treinamento são o caminho para administrar a crise. A solução dependerá da flexibilidade da equipe e da boa aceitação ás mudanças.

Bibliografia:

BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada a Administração de empresas. São Paulo: Atlas, 2011.
BERGER, Peter L; Luckmann, Thomas.  A construção Social da Realidade. Petrópolis: Vozes, 2004.
BOCK, Ana Merces Bahia (org). Psicologia Fácil. São Paulo: Saraiva, 2011.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
SPECTOR, Paul. Psicologia nas organizações - 3ª EDIÇÃO. Saraiva, 2006.



Raquel A. Cassoli.
Psicologa - CRP06/61822
Professora Universitaria no UNIPAULISTANA.
Professora na Pos Graduação no UNIFAI.
Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP
Doutoranda em Psicologia da Educação pela PUC-SP

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