Sábado dia
31 de agosto ocorreu na UFMS um evento ótimo. Foi um mini-curso "Por Uma Clínica
Histórico-Cultural" faz parte do projeto "Temas marginais em
Psicologia Histórico-Cultural" que visa trazer ao Câmpus Paranaíba (CPAR),
da UFMS, pesquisadores que trabalham com temas que historicamente foram pouco
desenvolvidos pela Psicologia Histórico-Cultural ou que pelo menos no Brasil
não se tenham muitas discussões a respeito, assim, alguns dos assuntos que se
pretende abordar são: a clínica, o abuso de substâncias, o inconsciente, a
psicopatologia, gênero e etnia, entre outros. O projeto, muito interessante, que pretende
ocorrer uma vez por mês no câmpus, adota o formato de mini-cursos por permitir
que os pesquisadores possam expor com tempo adequado suas ideias e que haja
condições propícias ao debate. Foi realizado pelo Instituto Aberto de
Psicologia Histórico-Cultural - Unidade de Paranaíba. O tema discutido
foi "Por Uma Clínica Histórico-Cultural" e trouxe Achilles Delari Junior e Armando
Marino Filho. Foi GRATUITO.
Ao que tudo indica o
mini curso foi ótimo e transcorreu tudo bem, já tem outro previsto para o mês de setembro. Após o evento, o Professor Doutor Nilson
Berenchtein Netto levou os convidados a um restaurante e neste
local encontram com o prefeito da cidade que agrediu o professor da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, verbal e fisicamente, pelo fato do
professor ter pedido um debate sobre a vinda do curso de medicina veterinária.
A seguir está a carta
aberta escrita pelo professor, que na sessão da câmara dos vereadores foi
impedido de se defender (veja aqui) e ameaçado por um vereador que disse que o prefeito foi
bonzinho pois devia logo ter pago alguém para acabar com ele.
Considero tudo isto inaceitável.
Carta
à Comunidade Acadêmica da UFMS/CPAR
Estimadas e Estimados colegas Professores,
Técnicos e Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus
Paranaíba;
Escrevo para relatar um gravíssimo e preocupante
acontecido que acredito nos atingir a todas e todos.
Hoje (31/08), realizamos uma atividade no
câmpus, um mini-curso com dois professores de fora do município sobre a prática
clínica na perspectiva Histórico-Cultural. Após o evento, fomos levar os
palestrantes para jantar no restaurante Come-Come. Enquanto conversávamos sobre
nossas práticas profissionais, chegou à nossa mesa o Prefeito do Município,
Diogo Robalinho de Queiroz, também conhecido pela alcunha de Tita ou Diogo
Tita, bravejando quem éramos nós, “barbudos”, e que ele estava trazendo para o
município, junto com a reitora Célia, o curso de Medicina Veterinária; ao que
respondi lamentar a vinda de tal curso (posição que, aliás, defendo
publicamente).
O Senhor Prefeito, com um comportamento
notadamente alterado, respondeu-me com um TAPA no rosto e continuou bravejando:
“Cala a boca, sabe quem eu sou? Eu sou o prefeito desse município!” e continuo,
“lamentáveis são suas barbas”, essas “barbas de buceta”, e que não sabemos o
custo que é manter uma universidade e que somos um “bando de vagabundos que
chupinhamos o Estado”. Nesse momento, um dos professores convidados pediu que
ele se acalmasse, pois em nossa conversa sequer estávamos falando do município
ou da Universidade, ao que o Senhor Prefeito respondeu com outro TAPA, em sua
mão, mandando-lhe também calar a boca. Mandou-nos a todos calarmos a boca
inúmeras vezes, enquanto repetia, gritando descontrolado, o mesmo discurso
relatado, com poucas variações e alguns acréscimos como: “Fui eu quem trouxe a
Universidade Estadual para Paranaíba e o Ramez Tebet a Federal”, “Queria eu ser
psicólogo, esses vagabundos que vivem em seus mundinhos e não pagam suas
contas” e “Esses professores vagabundos que vêm de Campo Grande chupinhar nosso
dinheiro”. Quando as pessoas que o acompanhavam foram retirá-lo, ele começou a
gritar à distância, para as pessoas que estavam no restaurante: “Olhem para
esses vagabundos que vem aqui nos atrapalhar, EU estou trazendo o curso de
Medicina Veterinária para essa cidade”. Retornando à nossa mesa e repetindo as
mesmas ofensas, fora novamente conduzido por seus acompanhantes à mesa em que
estava sentado.
Minutos depois, mais uma vez conduzido por seus
acompanhantes à sua camionete, retornou à mesa, apontando o dedo na cara do
professor palestrante (nosso convidado) dizendo que eles ainda irão conversar,
que ele o conhece, com uma evidente ameaça ao professor e que entendemos
extensiva a nós professores da UFMS/CPAR, já que não seria possível ao Senhor
Prefeito conhecer nosso convidado, por ele não ser do município ou sequer do
estado.
O fato ocorrido demonstra a completa ausência de
trato com a coisa pública por parte do Senhor Perfeito. Fui abordado em
público, num espaço não reservado a discussões de tal monta, para tratar de
assuntos que deveriam ser discutido em adequados fóruns.
A isso acresça-se o ABUSO DE PODER perpetrado
pelo Senhor Prefeito contra os ali presentes quando junto com o tapa, evoca sua
condição de administrador público: “Cala a boca, sabe quem eu sou? Eu sou o
prefeito desse município!”
Diante disso, gostaria de desenvolver algumas
reflexões:
1 – Tal fato acontece exatamente no dia seguinte
ao que estive em Campo Grande, junto a outros professores e representante
discente em reunião da ADLeste com a Reitora e pró-reitores, como representante
sindical deste campus na composição de comissão organizada pela ADLeste,
expondo as condições deterioradas de trabalho e estudo de professores, técnicos
e estudantes nos câmpus da UFMS (inclusive enviei convite aos colegas
professores e técnicos convidando à reunião em que discutimos o conteúdo do documento
apresentado à Magnífica Reitora e os Pró-reitores).
2 – É uma situação aviltante o fato de que um
trabalhador desta Universidade tenha sido chamado de vagabundo, quando nós
professores (ao menos os do curso de Psicologia) historicamente, nesse câmpus,
trabalhamos carga-horária superior àquela que os sindicatos defendem como
razoáveis, em condições precárias e que nos impossibilitam de desenvolver
adequadamente nossas atividades-fim (ensino, pesquisa e extensão).
3 – Ademais, o Senhor Prefeito, ao referir-se a
nós, psicólogos, como “vagabundos que vivem em seus mundinhos”, além de denotar
seu profundo desconhecimento da realidade da produção de conhecimento
psicológico, bem como da realidade dos profissionais psicólogos, profere uma
grave ofensa ao conjunto da categoria dos psicólogos. Também nossos alunos,
futuros psicólogos, foram gravemente ofendidos em suas escolhas de projeto
profissional. Por fim, o prefeito demonstrou, publicamente, o desprezo que
nutre por estes profissionais e, por derivação, pela existência de tal curso
neste câmpus.
4 – Ao dizer que não pago minhas contas – o que,
antes de tudo é uma calúnia e só mostra o despreparo do Senhor Prefeito com os
assuntos da vida pública –, o Senhor Prefeito olvida-se do fato de que é o
conjunto de impostos que nós, trabalhadores, pagamos, que retorna a ele sob a
forma de salário para que na investidura do seu cargo cuide da administração
pública da cidade.
5 – É um fato vergonhoso a qualquer munícipe o
de que o prefeito de sua cidade tenha agredido fisicamente e ofendido a um
professor que se dispôs, sem qualquer remuneração ou pró-labore, a
deslocarem-se a um campus de interior para trazer-nos uma discussão de
altíssimo nível, enquanto se gaba por estar trazendo um novo curso para esta mesma
Universidade, que imagino desconhecer as atuais condições de trabalho e estudo
de professores, técnicos e estudantes.
Diante disso proponho:
1 – Mesmo estando aprovada a vinda do curso de
Medicina Veterinária para o câmpus, retomarmos o debate amplo e aprofundado
acerca desse fato, que é também uma questão política.
2 – A retomada das discussões a respeito das
condições de trabalho e estudo a que nós, professores, técnicos e estudantes,
estamos sujeitos na UFMS.
3 – Que haja ampla discussão acerca dessa
afronta à autonomia da universidade pública.
4 – Que discutamos as precárias condições
oferecidas pelo município (transporte público, assistência, saúde e trabalho)
para a permanência dos estudantes no município e no câmpus.
5 – Que a Universidade se manifeste oficialmente
em relação ao ocorrido.
Paranaíba/MS, 31de agosto de 2013.
Professor Doutor Nilson Berenchtein Netto
Psicólogo – CRP/MS 14/05620-9
Professor Adjunto da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba
Coordenador do Curso de Psicologia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Paranaíba
Abuso de poder, falta de respeito com o professor e com a Psicologia.
Este fato ecoou pelas redes sociais e recebeu notas de repúdio do Conselho federal e regional de Psicologia, ABRAPSO, alunos da universidade, Sindicato dos psicólogos no Paraná, ADUNESP e outras entidades, inclusive entidades internacionais.
Estou com o Professor Netto e faço uso deste espaço para que, quem sabe, com esta mobilização esse prefeito possa saber o lugar dele (que não é na prefeitura, uma vez que ele deveria estar ao lado do povo).
Sim, isto é tema de aula, é preciso que as pessoas saibam e reivindiquem seus direitos. Lutaremos contra a violência do sistema capitalista e desta sociedade elitista.
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