Hoje quem está escreve é a Simone Manzaro, minha aluna na graduação do curso de Psicologia. Ela é uma aluna atenta e dedicada, acredito que será uma ótima profissional e escolheu contar sobre intervenção com idosos. Espero que gostem.
Boa leitura.
Boa leitura.
Educação em Saúde é Possível? Proposta de Intervenção com Idosos com Demência.
por Simone
Manzaro
Esse texto mais do que apenas uma tentativa de aproximar o processo
educativo das intervenções preventivas em saúde, é uma forma de explicitar um
pouco da minha atuação profissional enquanto estagiária em Psicologia.
Ao longo da graduação, conhecemos muitas teorias, fazemos muitas
escolhas ainda que prematuras, me orgulho da quão prematura foi a minha, a qual
me encantou e me direcionou ao humilde e singelo conhecimento que possuo hoje.
Temos
como fato que a população está envelhecendo mais, estimativas apontam que até
2025 seremos a maior população em idosos do mundo, fato este que coloca o
Brasil, entre os seis primeiros países com a maior população dentro dessa faixa
etária. Devemos aprender a lidar com as novas questões
inerentes ao envelhecimento que irão surgir ao longo desse tempo.
É
possível envelhecer ativo e com saúde, porém
cada vez mais, devido à própria estimativa de vida que aumenta
consideravelmente e pela tecnologia médica que nos permite maiores cuidados,
nos encontramos em situações onde o aparecimento de doenças crônicas e
irreversíveis se tornam praticamente comum após os 60 anos.
Estamos
falando principalmente delas, as demências, classificadas pelo DSM-IV como: “um
transtorno cognitivo, caracterizado por múltiplos déficits cognitivos
principalmente nas áreas da memória, linguagem e funções executivas, que são decorrentes
de efeitos fisiológicos originados de uma condição médica geral, do uso de
alguma substância ou de causas diversas podendo interferir com intensidade no
desempenho social e profissional do indivíduo”.
Boa parte das demências não apresenta causa e não tem cura, o que
também pode dificultar o seu tratamento, principalmente sua prevenção. Como
podemos pensar em prevenir uma doença se nem ao menos conhecemos a sua causa? O
importante é ter em mente que pode existir uma doença incurável, mas jamais uma
pessoa intratável.
Devido
a essas questões é necessário que cada vez mais possamos criar estratégias e
intervenções para trabalhar com essa população, podendo usar de reabilitação ou
estimulação cognitiva para trazer algum benefício mesmo que por tempo
determinado.
A cognição pode ser entendida nesse contexto como a inteligência
humana, através dela é possível à aquisição de informações, resolução de
problemas, evocação de memórias, julgamento, imaginação dentre outros.
É
importante esclarecer que as duas intervenções apesar do nome parecido,
tratam-se de direcionamentos diferentes. A reabilitação de forma geral pretende
reabilitar funções cognitivas que foram perdidas por motivos diversos, como
acidentes vasculares, afecções neurológicas, acidentes etc; A estimulação
cognitiva tem a intenção de estimular as funções cognitivas que ainda não foram
totalmente perdidas, tendo como objetivo primário a estagnação ou minimização
dessas perdas, como é o caso das demências.
E
onde entra a educação em saúde?
A
educação no âmbito da saúde constitui em um conjunto de saberes e práticas que
são orientados para a prevenção de doenças e promoção de saúde, tendo como base
o desenvolvimento das capacidades individuais e coletivas, não levando em
consideração sua ideia primária, ou seja, a educação com intenção sanitarista.
A
ideia de aplicar a educação em saúde, foco da nossa proposta, é de ao criar
estratégias e intervenções para trabalhar com pessoas com demências, atentar-nos
não só ao tipo de exercícios que serão utilizados bem como a qualidade com que
esses devem ser direcionados, criando dessa forma, intervenções que possam
trazer um pouco mais de qualidade de vida e benefícios cognitivos para essas
pessoas.
Para uma melhor compreensão de como essas atividades devem ser
elaborados, podemos nos basear na proposta de zona de desenvolvimento proximal
desenvolvida por Vygotsky (1987), ou seja, "a distância entre o nível de desenvolvimento atual determinado pela
resolução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial
determinado pela resolução de problemas sob orientação ou em colaboração com
parceiros mais capazes”. Resumidamente, a intenção é que os exercícios
não sejam difíceis demais a ponto dos idosos apresentarem dificuldades de
entendimento e resolução destes; e nem fácil demais, a ponto dos exercícios não
preencherem a proposta de esforço cognitivo para a sua resolução, e o mais
importante é que estes propiciem uma maior interação entre os idosos e os
profissionais.
A princípio, devemos ter consciência que
existem níveis de demência e que estes compreendem alterações cognitivas em
áreas diferentes do cérebro como memória, linguagem, atenção, raciocínio
lógico, planejamento dentre outros. Portanto, o importante é elaborar
atividades que possam contemplar essas diversas áreas, tanto com reabilitação
como estimulação cognitiva a fim de recuperação de funções e ou minimização e
estagnação de perdas.
Entendemos
aqui que a educação em saúde, objetiva não só à criação dessas estratégias e
intervenções, como também busca desenvolver competências para lidar com um
quadro demencial, diminuindo o estresse dentro da família e cuidadores
informais, podendo eventualmente incidir na saúde mental para todos.
Dessa
forma pretende apropriar-se dos conhecimentos teóricos advindos da educação,
buscando dentro dessa dimensão educativa, subsídios que possam conduzir sua
postura frente às atividades propostas.
Para
aproximar a educação da saúde no desenvolvimento das atividades cognitivas não
é necessário ser um especialista em teorias de educação ou saúde, mas é
importante conhecer-se enquanto parte do processo educativo dentro da saúde,
visando uma maior interação entre as pessoas pertencentes à um grupo, usando de
seus conhecimentos para promover educação, saúde e transformação social, agindo
de forma preventiva, inibindo o principal agressor desses sujeitos, que os rotula como loucos, dementes e
incapacitados: o tempo e a desigualdade.
Não
existe separação entre educação e saúde, ambas estão em uma realização de troca
de conhecimentos, na construção da integridade das pessoas, o que inclui também políticas públicas e orientações com base
preventiva e curativa, usando da proposta pedagógica comprometida com ações de
saúde, orientando-as para promoção e prevenção de saúde.
Exemplos
de exercícios e atividades:
1-É
importante ter um calendário em local visível e de preferência de letras
garrafais e espaço em branco para escrever, criar rotina de todo dia pela manhã
ir até o calendário e circular o dia, quando o paciente perguntar que dia é,
peça para que ele olhe para o calendário, de manhã ele circula o dia e a noite
ele faz um x, sinalizando que aquele dia acabou, segue exemplo:
2-Podemos montar um livro de memória, de fotos,
lembranças, um tipo de memória biográfica. Mostramos ao paciente e fazemos
perguntas como: Quem são as pessoas da foto, nome, quanto tempo a foto foi
tirada, quantos anos a pessoa tinha na foto. A intenção é estimular a percepção
do paciente em perceber onde ele estava na foto e também focar a atenção dele
em detalhes e observar sua emoção diante das lembranças. Mostrar fotos e
perguntar detalhes.
3-Ler, é um meio muito eficaz para exercitar a
memória, principalmente quando lemos em voz alta, aprendemos melhor.
Trabalhamos o raciocínio lógico, e também memória.
4-Contar histórias trabalham o raciocínio lógico,
depois pergunte detalhes da história como, o nome dos personagens, quem era
filho de quem, onde aconteceu a história e etc;
5-Música: colocar músicas que os pacientes ouviram
na época de juventude deles, isso trabalha na memória recente.
“O que é ou quem é”
1- Recorte pequenos pedaços de papel. 2- Escreva em cada um algumas frases de o que é ou quem é, exemplos: - O que é ou quem é: Cai em pé e corre deitado? - O que é ou quem é: Foi presidente do nosso país e não tem um dedo? - O que é ou quem é: Caixinha de bom parecer não há carpinteiro que possa fazer? - O que é ou quem é: Gostava de dar um beijo selinho em seus candidatos? 3- Coloco os papéis dentro de um saquinho. 4- Peço para que cada idoso retire um papelzinho e me entregue 5- Então faço a pergunta para ele.
3- Peço para que cada idoso retire uma foto mas sem ver e me entregue.
4- Começo a atividade pegando a foto que o idoso escolheu e dando algumas dicas sobre a pessoa, até alguém acertar.
|
“Quem é”
1- Recorto fotos de pessoas famosas (de preferencia famosos do tempo deles, como Roberto Carlos, Inezita Barroso, Sérgio Reis, Hebe Camargo e etc)
2- Coloco em minhas mãos as fotos viradas para baixo.
Categorizar
e Memorizar
Separe
as palavras do quadro a seguir em quatro categorias. Memorize-as. Quando
estiver pronto, reescreva as 16 palavras, categorizando-as:
SOFÁ BALEIA PAPEL VERMELHO
PRETO CANETA CACHORRO ARMÁRIO
LÁPIS MESA BRANCO BORRACHA
Ilusão de ótica
Embora
os exercícios e atividades expostos acima pareçam à primeira vista algo muito
infantil, muitas pessoas que apresentam demência, possuem dificuldade em
compreender e resolver essas atividades. É importante que cada exercício seja
elaborado de acordo com a demanda de cada pessoa.
Estou
a disposição para eventuais dúvidas!
Indico a leitura:
Sohlberg, M.M. Reabilitação Cognitiva: Uma Abordagem Neuropsicológica Integrativa. Ed
Santos.
Simone Manzaro
Graduanda do 10o semestre do curso de Psicologia na Uninove.
Contato: simonemanzaro@gmail.com
Graduanda do 10o semestre do curso de Psicologia na Uninove.
Contato: simonemanzaro@gmail.com
Essa não é apenas uma aproximação entre teorias ou ênfase de trabalho, mas é a possibilidade de junta-las para intervir a ajudar o próximo!
ResponderExcluirObrigada pelas palavras da apresentação Profa.
Bj